
EMAC recebe doação de saxofone do diretor da Faculdade de Artes Visuais
Em 14/06/23 11:01.
Instrumento acompanhou Bráulio Vinícius Ferreira desde a adolescência, quando iniciou os estudos musicais
Texto: Fabrícia Vilarinho
Foto: Andréia C.M. Mendes

No mês de abril, a Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) recebeu do diretor da Faculdade de Artes Visuais (FAV), Bráulio Vinícius Ferreira, uma presente muito especial. Trata-se da doação do instrumento musical que o acompanhou no aprendizado de suas primeiras notas musicais, um saxofone Weril da série Master, adquirido em 1987.
A doação do saxofone foi recebida na manhã do dia 19 de abril pelo diretor da EMAC, Eduardo Meirinhos, que agradeceu a gentileza do colega gestor. "Muito gentil foi a doação deste instrumento musical à escola. O professor Bráulio doou à nossa Escola um saxofone que esteve com ele por muitos anos e agora servirá aos nossos alunos", afirmou.
Após a entrega do instrumento, o professor Bráulio divulgou em seu instagram (@brauliovinicius) um pouco da história do saxofone misturada à sua própria história de vida. Transcrevemos, abaixo, o texto na íntegra. O instrumento irá auxiliar muitos alunos, sejam da graduação ou dos vários projetos de extensão da EMAC. E quem sabe, poderá fazer parte da história de vida de outras pessoas cujo sonho também foi, um dia, tocar saxofone...
A doação do saxofone foi recebida na manhã do dia 19 de abril pelo diretor da EMAC, Eduardo Meirinhos, que agradeceu a gentileza do colega gestor. "Muito gentil foi a doação deste instrumento musical à escola. O professor Bráulio doou à nossa Escola um saxofone que esteve com ele por muitos anos e agora servirá aos nossos alunos", afirmou.
Após a entrega do instrumento, o professor Bráulio divulgou em seu instagram (@brauliovinicius) um pouco da história do saxofone misturada à sua própria história de vida. Transcrevemos, abaixo, o texto na íntegra. O instrumento irá auxiliar muitos alunos, sejam da graduação ou dos vários projetos de extensão da EMAC. E quem sabe, poderá fazer parte da história de vida de outras pessoas cujo sonho também foi, um dia, tocar saxofone...
Na minha adolescência sonhava em ser um saxofonista. Eu queria tocar saxofone e imaginava (sempre fui criativo nesse quesito) que essa habilidade causaria uma repercussão na minha pacata vida social, resultado da timidez e também pela auto estima muito baixa, pois me achava um ser estranho - pra não dizer bem feinho. A modesta economia familiar não condicionou o saxofone como presente provável nos aniversários e natais, e me levou ao mercado de trabalho mais cedo - aos 12 anos integrava uma equipe de adolescentes aprendizes em um órgão estadual, o Ipasgo. Trabalhei ali dos 12 aos 15 anos e fiz - com alguma disciplina e orientação do meu pai - um investimento em um terreno que paguei em suaves prestações.
A vontade de tocar o instrumento, e viver o sonho (e a fantasia) do saxofonista, levou-me a visitar as lojas de instrumentos musicais no centro da cidade, lembro de ir à Casa Betânia, e ficar ali admirando o instrumento, mas sem nunca ter segurado o sax com minhas mãos. Não me lembro de quem foi a ideia, mas a possibilidade de vender o terreno e comprar o saxofone foi cogitada no ambiente familiar, a conversa deve ter saído meio sem muita intenção, e quando vi já tinha vendido o terreno e comprado o saxofone.
A compra foi numa manhã de sábado, fomos a uma loja em Campinas (não me lembro o motivo de não ter sido na loja do Centro de Goiânia) e compramos o instrumento. Ainda hoje penso que a educação financeira não era uma prioridade na minha família, pois imagine, vender um terreno para a compra de um instrumento que eu sequer tinha tocado uma vez na vida.
Voltei pra casa, montei o saxofone, coloquei a alça, e apoiei no meu pescoço. Senti naquele momento o peso (literalmente) da escolha, e começava minha carreira de estudos no instrumento. Procurei a escola Gustav Ritter em Campinas, para as aulas e lá conheci um jovem e talentoso professor, o músico e hoje maestro, Marshal Gaioso. Clarinetista, me ensinou a embocadura, e em uma das lições mais valiosas que recebi, chamava sempre a atenção para o “brilho do som”, observação feita quando eu conseguia fazer um fraseado de forma correta - acertando as notas e o tempo - mas sem o devido brilho que o instrumento de sopro deveria emitir. Apesar da abstrata procura pelo brilho do som, infelizmente não me adaptei ao instrumento, e a vida de um adolescente no ensino médio mostrou que minha carreira como saxofonista não seria promissora.
O instrumento então me acompanhou por décadas, e me lembrava sempre do adolescente sonhador que fui. Aliás ainda sou sonhador, certa vez em uma conversa difícil ganhei um “elogio”: fui comparado ao personagem Bob, do desenho animado “O Fantástico mundo de Bob”. Na hora recebi com certa mágoa aquela observação, depois acabei me familiarizando com a ideia, e aceitando que tenho mesmo uma parte sonhadora, fantasiosa, e que mesmo depois de alguns anos (e tombos), continuo sonhando e imaginando - bem menos do que eu gostaria, é verdade.
A pandemia da Covid nos trouxe lições significativas sobre a vida, talvez a principal foi relembrar a todos da implacável finitude das nossas vidas. Tudo passará, incluindo nós, eu e você. No meio da pandemia, com a possibilidade eminente de não estar mais aqui, olhei a minha volta e percebi que dava pra ficar mais leve, que eu tinha muito mais do que eu precisava, e nessa percepção o saxofone ganhou destaque, pois além do valor material, havia ali um significado que eu precisava reorganizar e ressignificar. Ficava incomodado com o instrumento parado, encostado em algum canto, embora ele me lembrasse de um tempo e de um menino que continuava a me inspirar.
Então tomei a decisão de doar o instrumento, mas para quem? Procurei uma escola pública, e até comecei a conversa com um professor de música, mas outro dia, encontrei - na matrícula dos calouros da UFG - meu colega de gestão, o diretor da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, professor Eduardo Meirinhos e contei rapidamente sobre a história do instrumento, fazendo ao final a pergunta se a EMAC gostaria de receber o instrumento como uma doação. A resposta foi positiva, bem como a doação considerada muito oportuna, pois há apenas um saxofone na EMAC. Fiquei feliz com a resposta, e mesmo com um aperto no coração, a doação parecia ser a melhor coisa a ser feita.
Na quarta-feira pela manhã, dia 19 de abril de 2023, o saxofone foi doado à EMAC UFG. Meu desejo (e sonho) é que o instrumento ajude a formar músicos competentes e sensíveis, capazes de tirar aquele som “brilhante” que eu tentei produzir.
Bráulio Vinícius Ferreira, diretor da FAV/UFG
(@brauliovinicius)
Fonte: Prof. Eduardo Meirinhos/ Prof. Bráulio Vinícius